quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Exú não é diabo e se tiver que ser, será. Por isso digo: Eu não sou mulher, mas se tiver que fingir, farei. 
Eu decidi lançar esse ponto na quarta feira de cinzas, porque aprendi como é gostoso morrer e agora ta dificil sim assumir essa nova vida. 
Aprendo muito com minha PombaGira sobre desejo, olhares, amores e giros... 
Aprendo com exuas e com minhas travestis sobre minha boca e nossos olhos. Como olhar... quando sorrir... 
Eu sempre ouvi pontos imaginando encontrar uma PombaGira travesti: um desejo que me move e me assusta. Então percebi que estava virando esse desejo: uma travesti que sabe amar PombaGiras sem cristaliza-las na imagem do corpo que só dança, bebe, fuma e gargalha. Porque tudo isso acontece na incorporação, é o que nossos olhos  geralmente podem ver. Mas vejo outras coisas, outros movimentos de PombaGiras... 
Assim como vejo outro movimentos de trava... outros além daqueles que seus olhos conseguem ver e desejar e capturar <3 <3 <3 

Tenho conseguido, com muitos esforços, construir nossa ancestralidade sodomita. Pra quem não sabe, "sodomita" era o nome que os colonizadores nos davam. Xica Manicongo foi chamada assim, hoje em dia ela seria chamada de travesti. Não ousem chama-la de não binaria ou de mulher-trans! É pouco, e por enquanto é TRAVESTI ou QUIMBANDA o melhor caminho a ser tomado!

Ponto de travesti
Arreda Homem

Arreda homem que ai vem mulher
Arreda homem que ai vem mulher
Ela é a trava preta, rainha do cabaré
Saravá às suas tetas
que nasceram quando nós decidimos transmutar a carne e incorporar as almas das travestis que nos querem lembrando da vida, da malandragem, da fé e da coragem.

Sete homens vem na frente, pra dizer quem ela é
São apenas gays medíocres e medrosos
que não sabem e nem devem entender como fazemos para respirar abaixo do fogo de nosso cu. Aqui embaixo já é água,  mar. kalunga. Musoni.
Por isso somos as gatas que sobrevivem às marés.

Eu caminhava, pela alta madrugada
quando no clarão da lua eu vi uma gargalhada
Eu caminhava, junto com as negras travas
durante o clarão da lua demos varias gargalhadas
e com a boca cheia de tesão, prometemos ao silêncio:
saberemos nos cuidar enquanto sabemos te espancar
te matar

Linda negrona formosa, me diga quem você é
ela é dona no style, é a Rainha de fé
O mona diga seu nome, vamos juntar nosso axé
Somos as travas encantadas, que ele chama de mulher

O Maria Lacraia, se tu és uma rosa
que floresceu, sob um monte de espinhos
O Dirceu bixa, se tu é uma rosa, uma rosa formosa
Bia Kalutor, abra meus caminhos
Bia Kalutor, abra nossos caminhos

LAROYÊ
Abra nossos caminhos e nos proteja

amigas, que Exú e suas Meninas nos guie e nos salve.
obrigada até aqui
e pelo o que já foi
e por o que ainda estar por vim

<3 <3 <3




sábado, 15 de fevereiro de 2020

[00:01, 14/02/2020] roger gill: EU não sei dimensionar a sua existência. Eu não posso e não consigo. Percebi que não preciso porque me atravessa. Me atravessa porque sou o vento, sou a água… mas hoje fui sombra. Me atrevessa porque você foi, é e sempre será o que a luz do sol é para as plantas. A fotossíntese é o símbolo máximo do amor. Porque você me escolheu? Como Cristo por mim, deu-me uma prova de amor. Mas um amor puro, tão profano que só poderia estar dentro de uma capela. Uma capela não, um terreiro. Um terreiro pra eu ficar as minhas raízes e te retribuir algum dia o tamanho da sua luz. É muito louco isso de vidas passadas. Ano passado já faz anos luz… talvez seja esse o meu deslocamento… sentir que o sol sempre nasce e se poe. Mas ele não morre nunca. Você nunca morre cast. Mas eu sei que eu morro sempre que eu lembro que eu posso morrer. Mas eu morro só pra ressuscitar, e olhar pra essa sua cara de pombo gira rindo pra mim. Pra gargalhar o deboche de poder ressuscitar sem morrer. Mas tendo morrido umas mil vidas. Isso de morrer é coisa de caveira. E que o pó de minha ossada te encontre em são Paulo. Se você ouvir uma gargalhada quando chegar lá é uma lembrança minha. Mas tem que ser no por ou no nascer do sol, não gosto de ficar na rua de noite. Mas eu aprendi agora que você me tirou da cova.
[00:08, 14/02/2020] roger gill: Eu amo vocês nessa, nas passadas e nas futuras.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

minha cabocla tem me ensinado sobre fitoenergetica, e quando tento enxergar-la ( a energia das plantas ) lembro que meu corpo carnal precisa está um pouco mais sincronizado com meu corpo sutil. lembro disso enquanto escrevo e percebo que enquanto tento lembrar de como fazer meus dois corpos dançarem experiêncio uma frequência dessa sincronia que acontece sempre que penso sobre ela. 

é complicado dizer, então escreverei de olhos fechados. pronto tentarei escrever com meus olhos sutis. é falar sobre o amor, um amor que aprendi lendo as mãos de Roger. lendo sua mão e ouvindo sua voz de locutor. Acredito que nossa amizade me ensina sobre incorporação, porque a fitoenergética é isso: um encontro e a sustentação desse Tempo de Cura que se inaugura quando essas vidas sincronizam, de modo efêmero, suas existências. Quando abraço Roger, sinto um calor que me lembra a aroeira, mas nosso corpos animais também podem juntos produzir uma temperatura de acalento que me faz lembrar de quando minha cabeça é tomada pelas Rosas Brancas e Manjericões. 

Comecei esse texto com essa vontade de dizer sobre plantas e Roger. Uma vez eu olhei pra Roger e vi a beleza de seu corpo sutil. Me assustei, era muito bonito. Aquele dia ele estava muito bonito, e durante aquele momento eu não consegui parar de olhar. Estava sem camisa, mas eu não senti desejo sexual, e novamente me assustei; dessa vez, comigo mesma. Ja me assustei com as plantas, geralmente suas raízes me deixam avoada. 

É isso, enxergar Roger com meus olhos de vento foi assustador e delicioso porque lembrei que consigo voar sempre que me permito ser conduzida por raizes ou folhas das plantas que minha avó Julite cria. Quero acabar por aqui, dizendo que amo meu terceiro olho, sou grata pela amizade e reencontro com Roger e amo as plantas que vovó cria desde sempre. 

isso é uma arvora mas poderia ser você, amiga <3 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

mergulhar na profundidade no oceano nunca me foi tão dificil. Enquanto eu vivia na Ilha de Vitória, adorava mergulhar. se possivel ia na praia toda semana... teve tempos que eu passei horas na Beira Mar desejando esses mergulhos que hoje tenho feito. ai agora sai da ilha e tenho construido minha diaspora. como Renato Santos me disse uma vez: agora você esta fazendo a boa diáspora. Sim, estou tendo a oportuinidade da escolha.ou de fazer outras escolhas. e as escolhas que tenho feito, são feitas aqui de baixo. esses dias lembrei do Tempo Bantu, estou vivendo a Luvemba.
vou começar dizendo em silêncio que: se eu pudesse continuaria falando calada. Eu tenho olhado com olhos fechados para a fumaça do Quarto Fumê e enxergado a luz ultra violeta. E quando a vejo, entendo esse meu cansaço de ser vista, que é porque quando me veem pedem para meus olhos de travesti enxergarem a Cura para os seus de viado preguiçoso e medroso. 

Mas sou canceriana com muitos planetas em gêmeos, então me perco no desejo de dizer sobre o amor. Amo Rodrigo, Marcela e agora Jade e Rainha. As vezes esqueço como me amar e respirar. A disforia de gênero é um vicio racista, e teve uma gira que exú gargalhou de minha cara e disse: nem elas acreditam no que falam, você precisa acreditar em você! 

Então eu disse: não me interesso em ficar zigzagueando de homem pra mulher. Enquanto isso ja virei trava e tem uns meses que meu corpo pede vários banhos durante a semana. Ai lavo minha cabeça mas não posso esquecer de limpar meu chakra Anahata. Entendi que disforia é um mal olhado porque é um olhar racista cisgênero.  

Então enquanto se importam em conquistar a branquitude para ter visibilidade, faço yoga com vontade de voltar a fazer capoeira, para desaprender o desejo de representar e ser representada. E uso óleo essencial de gerânio. Ai vou me lembrando....