segunda-feira, 18 de outubro de 2021

 Estava eu olhando admirando meu pesadelo, que naquele momento continuava a me seduzi com seu movimento, Son e cores marinhas. Já não há pesadelos quando desejo estar junto a ti, ainda que você seja uma de minhas mais perigosas inimigas; oh grande Onda. Sim, sou sua e naquele passeio te admirei e te protegi com aquilo que tenho de mais sagrado e verdadeiro em mim: minha voz. Gritei para que ouvir "olhe para as ondas!"e quanto maiores eram, mais minha boca enchia de alegria. Eu fechei os olhos e enxerguei seu campo magnético acontecendo em mim, forma de lagrimas. Suas cores azuladas se derramavam num estranho branco que cintilava minha saudade e minha gratidão em te ter aqui por perto; meu sangue. Era calor, o passeio aparentava esta acontecendo num festival daquele esporte em que esses animais tentam se equilibrar na imprevisibilidade de forma, na forma de seu cheiro, no mar e em seus dilúvios. É lindo quando tudo se desabada, suas partículas demonstram em grande escala que tudo esta prestes a se misturar, ainda quando temos medo das tempestades. Pois o meu medo é te esquecer, e ja nao o tenho quando consigo dançar junto com oce. Dancei, gritei, briguei e sai de sua areia, subi a rochas e entrei dentro de um tempo que estava suspendo no ar e enraizado na terra; que interessante, pois me parece ser real os fins dos relacionamentos. Pois o encontrei, eu o queria próximo a mim e ele disse-me raivoso sobre uma poesia em que eu havia dito que nao mais o amava. De fato, mas mais o amo, pois a saudade que tenho nao é dele mas de nós. A questão que se apresenta é: se novamente o desconheco, então haverá a inevitável possibilidade de novamente ama-lo. Mas fiquei quieta. Mas expliquei a ele. Demos um beijo. O beijei. Ele continuou com raiva, mas eu estava serena. Atenta a sua raiva. Ele desejava ver a mesma forma, mas pescadores sabem que nao existe o mesmo mar ainda que esteja no mesmo barco procurando por aquele peixe que ja foi assassinado e jantado pela sua família. Pescadores conhecem o mar, tao bem quanto os surfistas. Mas surfistas sao necessários, interessantes aos que tem medo do mar e a nos que nao somos daqui mas aqui estamos. No entanto, os pescadores sao os que mais me apetecem. Pescadores sabem que os peixes nao sao seus maiores tesouros, pois sabem que a pescaria é um exercício espiritual que nao se restrigem a carne, e sim ampliam seus repertórios de memória, modificam sua alma. Porque os tesouros que encontram na pescaria sao ventanias, sabores, medos e anseios. E tambêm as informações necessárias para continuarem sua jornada neste Planeta Terra. Encontram-se comigo, sou eu quem lhe dou o fim, sou eu quem lhe amo e sou eu quem lhe quero a pescar para mim. Pescadores sao informantes, eles sao os meus peixes. Peixes do vento, peixes do ar. É isso que são. 

terça-feira, 5 de outubro de 2021

Ó grande morte, venha ate mim e quebre todos os meus ossos, ate se tornarem farinha, e fumaça e fogo. E o fogo que arderá meu sangue, há de se tornar o liquido que lubrificara minha garganta para que eu possa gritar : EU NAO QUERO! NAO QUERO ESTAR AQUI, LEVEM-ME COM VOCES. ESTOU PRONTA. Eu quero esta aqui, dentro desta agua barrenta que chamamos de praia. Em Jacaraipe as aguas das praias sao assim, barrentas e quentes. Mas quentes do que as praias de vitoria. Mas em nenhuma delas há a temperatura de meu sangue quando encontro vocês. Sim, porque nao sou uma praia, nao sou o mar, nao sou Yemanjá. Sou o vento, nao sou os peixes, nao sou a beira mar, não sou as aguas podrificadas pelo esgoto de Vitoria, nao sou um navio, nao sou a rede. Eu olho para o horizonte, e entendo. Eu entendi, eu sou Castiel, meu nome é Castiel e um dia terei entre minhas pernas um buraco por onde também me afogarei sempre que eu tiver medo de pronunciar minha mais pura verdade, em voz alta: meu nome. 

 

Ok, então chegamos ate aqui. Digo a mim mesma quando voces estao aqui na minha frente, e digo a vocês que eu também estou em suas frentes. Eu tenho vontade propor uma dança. Ou melhor, uma reza onde nos posicionaríamos num circulo, de costas umas pra outras e cada uma de nos iria gritar como golfinhos. Nao escoltaríamos umas as outras, porque nao haveria essa possibilidade a partir do momento que em nossas vidas se desmanchassem dessa forma bipide que nos tornamos e neste momento seriamos azuis, para exemplificar aquela cor que eu enxerguei mas nao sei dizer o nome. Azul escuro, e de outras tonalidades. Sim. Estou aqui, na beira do mar, e estou começar a ficar com raiva porque ainda estou aqui. Estou com raiva porque vocês me olham e nao me tiram daqui. Tirem-me daqui, agora! Agora! Eu quero que me tirem daqui agora! Que facam o buraco agora! agora! AGORA! 

Desculpe. Desculpe-me! Desculpe porra. Desculpe, desculpe, desculpe. Que merda! Eu sou uma merda. Arg! 

Que merda, desculpe-me.