domingo, 27 de dezembro de 2020

 Contato

Estava eu num lugar da cidade onde havia um rio, e ali eles chegaram. Vinheram dos céus, pousaram nas aguas. Eu olhei de perto sua chegada, algumas pessoas correram, outras continuam comigo.

Meu trabalho era entrar em contato com aquilo, e aconteceu. Chegou um momento em que um deles me convidou para encontra-los. Eles tinham corpos parecido com o nosso, mas a pele era azul pálida, ou furta-cor brilhante. Eu cheguei perto, me desarmei e imediatamente eles apontaram um objeto para mim, apertaram o gatilho e eu e todos eles nos tornamos invisíveis. Para mim foi rápido, para quem assistia foi lindo. Eu queria ser telespectadora, mas também estava bem em ser coíba.

Percebi que eles ja estavam entre nosso grupo de trabalho. Um de nossos colegas ficou em coma, a Iris conversava com a alma dele. Ele a contou que seu ombro estava quebrado, e Iris ficou aguniada porque falar sobre isso para outras pessoas que ali estavam a colocaria em vulnerabilidade. Como ela iria justificar essa informação ainda sendo vista como uma homossapiens sapiens? Mas ele acordou e ela arriscou. Conversou com ele em frente a todos, e disse ali mesmo o local exato de sua fratura. As pessoas ficaram espantadas, e ela saiu da sala após da as recomendações.

O que havia acontecido com Iris e Luiz? O que estava acontecendo comigo?

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

 

subir, descer

Era preciso avisar que não era preciso preocupação. O mistério continuava seguro. Era preciso o fim, e estávamos num momento de contemplação desse fim; no entanto, para alguns era hora de arrependimento. Minha missão era informar que o segredo continuava guardado. Para isso eu não precisava relevar nada, apenas informar.


terça-feira, 22 de dezembro de 2020

 Estou andando, e fui para muito longe. Será que antes de morrer, você também atravessou o atlântico? Talvez o que precisamos seja de um novo abraço, e isso é interessante porque eu comprei pra você uma garrafa de café que você nunca veio buscar, ou eu nunca fui te dar. Talvez porque não era mesmo pra nos encontrarmos. Talvez foi preguiça, medo. falta de vontade ou paralisia de saudade. Ansiedade. Sei que nunca gostei de café, e isso não tem nada a ver com você. É que quando acordo, gosto de beber algo gelado. Essa temperatura fria me desperta, a quente me deixa ainda mais tonta de sono. Mãe, fomos para longe uma da outra e eu esqueci o significado dessa palavra mãe. A palavra esta vazia, isso é bom e ruim. As vezes me sinto órfã, as vezes em luto as vezes livre. As vezes sinto que quis muito ser você. Hoje sou. Transmutei a carne e minha cara ta ficando mais feminina. Algumas pessoas dizem que estou parecida com você. Por conta dos nossos cabelos curtos também.


Prefiro a palavra Ingrid, seu nome. Porque nele cabe um montareu de coisas que não cabem na palavra mãe. Em Ingrid cabe mãe, mas talvez em mãe não caiba ingrid. Sou assim também.

Foram 11 anos dizendo que você sumiu. Agora sei que você morreu. Esse mundo tem me cansado tanto que tenho vontade de morrer também. Morrer é descansar, e estou aqui trabalhando para que seu descanso pós morte aconteça. Porque sei que depois que morremos também continuamos trabalhando.
Eu queria te abraçar mais uma vez com esse corpo que tenho hoje, mas sei que nos encontraremos no além. E não tenho pressa. Hoje faz 2 anos que meu avô bininho se foi. Continuo encontrando ele, sonho, intuição...

Com você também é assim.

Acho que o problema sou eu também. O limite dessa encarnação. Eu escolhi voltar, sai de dentro de você. Sei que escolhi, e estou tentando escolher o descanso. Minha carne é fraca, se cansa, quer dormir, tem frio e calor, tenho cede, fome, tesão... Então mesmo que eu saiba te encontrar na kalunga, meu corpo também pede o encontro carnal.

Acho que com sua morte eu consiga sentir saudades e falta. A morte é linda, nos ensina a viver. Cria espaço em quem fica. Espaço pra saudade. E a saudade é uma forma de lembrar que uma parte de nós precisa ser alimentada. Não sei qual era sua comida preferida, mas sei qual é a minha e posso te convidar para comer junto comigo. É assim que cultuamos... alimentando. E assim seguimos a vida até ela nos avisar que a morte chegou e nos espera.

Chegamos ate aqui e eu te amo. Me leve à morte. Não sei como foi sua passagem, mas quero morrer bem.
abraços

 a mulher

Eu pedi para entrar numa sala que só ela tinha a chave. Ela era professora. Era artista. abriu pra mim, dancei. Depois ouvi mais uma musica e quis dancar novamente, e ela ficou com raiva e me perguntou: porque você fica tentando nos imitar ? Tentando fingir?

Eu disse: eu não estou fingindo, eu sou. Estou vivendo o que sou!

Tudo aconteceu dentro de minha escola de ensino fundamental

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

 o fogo não se propaga sem o ar

O fogo e o ar. Retirar o ar para o fogo não existir. Um animal peçonhento que sempre volta, que insiste. Por um instante, Abandonar a matéria que necessita de ar para viver e retirar o ar do ambiente para que o fogo se acabe. O fogo utiliza uma pedra para atacar a nação do ar. O fogo e a terra.

A nação da agua prospera enquanto o fogo é atacado pelo ar. O ar brigada com o fogo e a agua ganha tempo. A nação da agua vive um belo momento de refinar seus conhecimentos. Calma, firmeza, tempo, segurança: enquanto o fogo é atacado pelo ar, são esses sentimentos que prevalecem na agua.

Mas é na agua que a vida nasce. É na agua que o verme torna-se a nascer. O animal peçonhento precisa de agua e de um corpo para sobreviver. Esse é o karma da agua: criar a vida, seja ela qual for. Esse animal aparecera enquanto houver ar. A agua afoga os animais que veneram o ar. A agua da a vida e mata com vida. Não há vida sem agua, não há conexão sem o ar. E entre a agua e o ar mora o fogo.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Lembrar daquilo que esqueci, enquanto subo e desço a Fonte Grande . Criar um mapa das fontes da Fonte Grande.  É uma promessa que fiz pro meu avô Bininho, que descobri ser uma aposta que ele fez em mim. Subir e descer semanalmente a Fonte Grande durante o tempo que me for necessário viver. 

E talvez o que eu precise seja de coragem. Obrigada pela saudade. Pois estou correndo, correndo, correndo para muito longe e aqui cheguei. Eu sou a mensageira. Eu sou Castiel Vitorino Brasileiro. Eu sou filha do vento que venta no mar e que aqui espanta o meu medo da morte. Assim serei cultuada: como aquela que desejou morrer bem, morrer dormindo. Aquela que morreu, matou, sacrificou sua sanidade e gritou e girou e disse bem alto que: estou aqui de passagem, abandonarei vocês mas os terei comigo sempre que precisar voltar.  

E voltarei, serei parida na Boca da Mata quantas vezes nos for necessário. Não caibo nos desenhos que vocês chamam de números. Sou infinita. Sou efêmera. Sou agua com sede de fogo, sou fogaréu que queima hibisco e libera o cheiro que desentendemos. Em você eu sou a estrada, o desvio, o movimento. Em mim você é o sangue que derramarei para eu não esquecer que não serei estacionada pela sua mediocridade ou covardia.  

Serei novamente filha? Tenho sonhado muito com minha mãe, esse ano.... serei novamente filha? Serei mãe?