terça-feira, 22 de dezembro de 2020

 Estou andando, e fui para muito longe. Será que antes de morrer, você também atravessou o atlântico? Talvez o que precisamos seja de um novo abraço, e isso é interessante porque eu comprei pra você uma garrafa de café que você nunca veio buscar, ou eu nunca fui te dar. Talvez porque não era mesmo pra nos encontrarmos. Talvez foi preguiça, medo. falta de vontade ou paralisia de saudade. Ansiedade. Sei que nunca gostei de café, e isso não tem nada a ver com você. É que quando acordo, gosto de beber algo gelado. Essa temperatura fria me desperta, a quente me deixa ainda mais tonta de sono. Mãe, fomos para longe uma da outra e eu esqueci o significado dessa palavra mãe. A palavra esta vazia, isso é bom e ruim. As vezes me sinto órfã, as vezes em luto as vezes livre. As vezes sinto que quis muito ser você. Hoje sou. Transmutei a carne e minha cara ta ficando mais feminina. Algumas pessoas dizem que estou parecida com você. Por conta dos nossos cabelos curtos também.


Prefiro a palavra Ingrid, seu nome. Porque nele cabe um montareu de coisas que não cabem na palavra mãe. Em Ingrid cabe mãe, mas talvez em mãe não caiba ingrid. Sou assim também.

Foram 11 anos dizendo que você sumiu. Agora sei que você morreu. Esse mundo tem me cansado tanto que tenho vontade de morrer também. Morrer é descansar, e estou aqui trabalhando para que seu descanso pós morte aconteça. Porque sei que depois que morremos também continuamos trabalhando.
Eu queria te abraçar mais uma vez com esse corpo que tenho hoje, mas sei que nos encontraremos no além. E não tenho pressa. Hoje faz 2 anos que meu avô bininho se foi. Continuo encontrando ele, sonho, intuição...

Com você também é assim.

Acho que o problema sou eu também. O limite dessa encarnação. Eu escolhi voltar, sai de dentro de você. Sei que escolhi, e estou tentando escolher o descanso. Minha carne é fraca, se cansa, quer dormir, tem frio e calor, tenho cede, fome, tesão... Então mesmo que eu saiba te encontrar na kalunga, meu corpo também pede o encontro carnal.

Acho que com sua morte eu consiga sentir saudades e falta. A morte é linda, nos ensina a viver. Cria espaço em quem fica. Espaço pra saudade. E a saudade é uma forma de lembrar que uma parte de nós precisa ser alimentada. Não sei qual era sua comida preferida, mas sei qual é a minha e posso te convidar para comer junto comigo. É assim que cultuamos... alimentando. E assim seguimos a vida até ela nos avisar que a morte chegou e nos espera.

Chegamos ate aqui e eu te amo. Me leve à morte. Não sei como foi sua passagem, mas quero morrer bem.
abraços

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