terça-feira, 5 de outubro de 2021

Ó grande morte, venha ate mim e quebre todos os meus ossos, ate se tornarem farinha, e fumaça e fogo. E o fogo que arderá meu sangue, há de se tornar o liquido que lubrificara minha garganta para que eu possa gritar : EU NAO QUERO! NAO QUERO ESTAR AQUI, LEVEM-ME COM VOCES. ESTOU PRONTA. Eu quero esta aqui, dentro desta agua barrenta que chamamos de praia. Em Jacaraipe as aguas das praias sao assim, barrentas e quentes. Mas quentes do que as praias de vitoria. Mas em nenhuma delas há a temperatura de meu sangue quando encontro vocês. Sim, porque nao sou uma praia, nao sou o mar, nao sou Yemanjá. Sou o vento, nao sou os peixes, nao sou a beira mar, não sou as aguas podrificadas pelo esgoto de Vitoria, nao sou um navio, nao sou a rede. Eu olho para o horizonte, e entendo. Eu entendi, eu sou Castiel, meu nome é Castiel e um dia terei entre minhas pernas um buraco por onde também me afogarei sempre que eu tiver medo de pronunciar minha mais pura verdade, em voz alta: meu nome. 

 

Ok, então chegamos ate aqui. Digo a mim mesma quando voces estao aqui na minha frente, e digo a vocês que eu também estou em suas frentes. Eu tenho vontade propor uma dança. Ou melhor, uma reza onde nos posicionaríamos num circulo, de costas umas pra outras e cada uma de nos iria gritar como golfinhos. Nao escoltaríamos umas as outras, porque nao haveria essa possibilidade a partir do momento que em nossas vidas se desmanchassem dessa forma bipide que nos tornamos e neste momento seriamos azuis, para exemplificar aquela cor que eu enxerguei mas nao sei dizer o nome. Azul escuro, e de outras tonalidades. Sim. Estou aqui, na beira do mar, e estou começar a ficar com raiva porque ainda estou aqui. Estou com raiva porque vocês me olham e nao me tiram daqui. Tirem-me daqui, agora! Agora! Eu quero que me tirem daqui agora! Que facam o buraco agora! agora! AGORA! 

Desculpe. Desculpe-me! Desculpe porra. Desculpe, desculpe, desculpe. Que merda! Eu sou uma merda. Arg! 

Que merda, desculpe-me. 


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