Caso esteja por vir, eu preciso te dizer que não irá me reconhecer ali no limite do frio e do calor que me deixou, porque eu aprendi a viver nesse vai e vem e hoje já nem estou mais binária, e sim hibrida dessa polaridade ritmica, temporal, espacial. Há tempos eu amo o sabor agridoce, mas tem pouco tempo que estou aprendendo a amar essa dinamica de estações que acontecem em mim. sair de uma cindade nublada às 8h da amanhã e chegar em outra super ensolarada às 14h da tarde me ensinou a aceitar que no meu corpo há tudo isso e o que preciso é continuar fazendo escultas intuitivas daquilo que meu corpo pede como temperatura.
Mas, se estou com frio estou triste e se estou com calor eu estou relaxada, então para relaxar antes precisei me aquecer do frio. Eu me aqueço me abraçando, tocando todo meu corpo, toda minha existência. No frio, faço de mim um casulo ou uma borboleta cansada de voar. Não sei o que é minha mãe. Mas acredito nela como acredito na vida. Acredito em Ingrid Teixeira Vitorino como um expressão vital unica de uma infinidade que é a vida, e sendo ela expressão de vida, logo também se expressa numa efemeridade e imprevisibilidade que tanto amo e me amedronta. Faz 10 anos que minha mãe fugiu, foi embora, nos abandonou sem deixar rastros. Mas, fez de mim um rastro que a persegue enquanto aos poucos vou embora para um tempoespao em que ainda não sei nomear. Agora sou travesti e mãe de santo. Serei uma mãe como minha mãe? que foge deixando rastros que na verdade são pistas para chegarmos à sua coragem de dar adeus...
Eu ja tive vergonha de ter brasileiro como sobrenome, e usava apenas o vitorino. Mas entendi ser preciso futucar a memória familiar, então criei O Trauma é Brasileiro. Meu trauma também é Vitorino. Mas não faço do trauma uma prisão, mas uma encruzilhada. Faço de minha vida um trauma ao colonialismo, e o colonilismo faz em mim seus traumas. E se faço, eu crio. Sou criadora, sou Exú e Pomba Gira. E também sou cabocla. por isso sou castiel....
Porque quando morei na boca da mata, me fazia bastante frio. O sereno sempre acontecia todas as noites, mas eu o amava e ainda o amo. O frio umido, que me faz ter calor. Um frio que me faz ter calor. Sou cabocla porque as matas são frias, e sou pombagira porque exú me faz ter calor.
No omolocô eu aprendi sobre quando exú entre nas matas. Eu sou essa, aquela feita de calor e frio. Feita de duas mães e dois pais. Sou o quinto elemento então, aquele em que tudo há e nada mais se há pois o que havia ja é outra coisa.
Fiz de minha mãe um caminho possivel para eu continuar acessando a imprevisibilidade da vida. E 10 anos após seu sumisso, quando ela aparece, sou surpreendida. Ela estava fudida, e eu esperava uma mulher negra feliz. Mas não foi esse o pacto que eu criei comigo mesma: de viver na impossibilidade de abandonar a imprevisibilidade que é nossas vidas?
Nenhum comentário:
Postar um comentário