sexta-feira, 24 de abril de 2020

Quando virei benzedeira perguntei para um ogam: existe benzedeira travesti? Ai ele me ensinou sobre a inexistência da tradição. Estou pensando até agora sobre isso, porque até hoje dizem que eu não existo. Mas na ultima lua minguante, me senti velha e sonhei todos os dias sobre minha juventude que ainda não acabou. Tenho vinte três anos, e durante sete dias parece que revivi todos esses dias. Tive dificuldade para assumi que acordei, e me forçava a voltar a dormir, mesmo sabendo que nos sonhos eu não descansaria. Era pra eu ter usado o óleo essencial de bergamotta pra me ajudar a despertar, mas sempre me esquecia. Parecia que ao acordar eu me despedia ou me reencontrava com a morte. E essa dança foi se fazendo no meu corpo cansado, onde aqui o que mais havia era vontade de fim. Terminei um texto importante do mestrado. Antes de ser psicóloga e artista, fui uma criança que aprendeu a ler e escrever com muita facilidade. Hoje estou lendo aprendendo a ler a lua para escrever sobre o "Sagrado Feminino de Merda". Sou canceriana, criada por uma avô canceriana, junto com uma prima canceriana. Vazemos aniversários em 21, 24 e 26 de junho. Ai eu cresci ouvindo que minha avó tinha me criado como uma menina. Mas eles erraram, porque o que me tornei foi uma travesti. Então é isso. Durante a lua minguante, senti essa merda sendo jogada fora e virando adubo. Foi difícil, mas sinto que consegui adubar.

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