Tempo de cura é um tempo não-ocidental. E esse tempo é composto em coletividade e experienciado de modo singular. Tempo é história, e a história se faz em gestos, e gestos produzem histórias.
Quais tempos há em nossos gestos?
Quais gestos produz cura?
Como o corpo produziu para si um tempo de cura?
Tempo é movimentação. Oriki. É movimento. E se tudo esta em udo, o que há no corpo que o possibilita a cura?
A cura é uma capacidade de manipular energia vital. Ou seja, vida. Ou seja, tempo. O que há no corpo de cura são vidas e temporalidades sendo manipuladas, equilibradas. A cura é uma produção de memórias, histórias.
Meu corpo é negro e bixa. Racializado e não-cisgenero. Tenho um caboclo que nos escolhemos antes de eu reencarnar.
A minha cura é um equilíbrio do meu tempo com o dele ( caboclo), que produz um tempo comum. O equilíbrio de nossas temporalidades produz um tempo como que é o tempo de cura.
O tempo de cura.
Não há possibilidade de cura, se não houver um respeito mutuo dessas vidas que compõe essa relação.
Caboclo tem um tempo espiritual, eu tenho um tempo carnal, marcado pela ocidentalidade.
O tempo de cura é um equilíbrio de temporalidades.
Não há porque o caboclo se incomodar com a minha sexualidade pois o caboclo é uma vida que esta num tempo que a sexualidade é compreendida de um modo que não é ocidental. A travestilidade e a bixalidade, e o racismo, não são experiencias que acontecem no mundo espiritual.
Para o avanço espirital acontecer, caboclos precisam nos ensinar que a vida é maior que nossas identidades. E para descolonizarmos, precisamos aprender o tempo que a macumba quer nos ensinar. Que é um tempo do corpo. E não da identidade. Essa é uma relação cosmogônica. É uma feitura de mundo. Qual mundo?
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